segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Machadão deve ou não ser derrubado?

O estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado é o maior estádio de futebol da cidade do Natal. O Machadão, projetado pelo arquiteto Moacyr Gomes da Costa, é considerado um dos mais belos estádios do Brasil. Por causa da sua beleza, quando foi inaugurado em 1972, na gestão do prefeito Jorge Ivan Cascudo Rodrigues, foi chamado pelo então governador do estado, Cortez Pereira de "um poema de concreto".

Quase quatro décadas depois, o monumento parece ter perdido seu valor poético, pois está prestes a ser demolido. Até o final de 2010, não só o velho Machadão, mas também o jovem ginásio Machadinho serão demolidos, para dar lugar à construção da Arena das Dunas, espaço onde serão realizados, em 2014, os jogos da Copa do Mundo de Futebol, organizada pela FIFA, embora a decisão pela derrubada desses espaços de lazer esteja dividindo a opinião da população.

Por um lado, alguns que são contra a derrubada argumentam que ela representa a destruição do patrimônio público e a falta de memória do povo, que não se dá conta do desperdício do dinheiro público gasto em 2007, quando o estádio passou por uma reforma, em que foram investidos 8,5 milhões de reais, pois estava de fato em péssimas condições de funcionamento, pondo em risco a segurança dos seus frequentadores. Por outro lado, os que são a favor da demolição argumentam que, sediando os jogos da Copa de 2014, Natal terá mais chances de se desenvolver, que o evento poderá diminuir o desemprego no RN, que será importante para o desenvolvimento do turismo, que os gastos serão pagos pela iniciativa privada e que ganharemos um estádio ainda melhor.

Será que a construção de um novo estádio não nos causaria o mesmo problema? Teríamos como manter esse novo estádio? A solução encontrada até agora foi o estabelecimento de uma parceria entre a iniciativa pública e a privada. Confesso minha preocupação em relação à alternativa proposta para a resolução do problema, pois não sei a que interesses estaremos atendendo, caso não procuremos resolver coletivamente o problema.

Pergunto agora: e o dinheiro que foi investido nessa reforma, em 2007, não poderia ter sido investido em outras áreas como a saúde ou a educação? Se o estádio estava de fato em estado precário, podendo ser interditado a qualquer momento por falta de segurança dos seus frequentadores, por que investir tanto para derrubá-lo em seguida? Por que o poder público não zela pelo nosso patrimônio? Acredito que falta da parte dos nossos representantes vontade política, além de zelo pelo dinheiro público e responsabilidade social. Da parte do povo, falta educação para que ele aprenda a preservar e a cuidar do seu patrimônio.

Particularmente, sou muito mais de opinar do que criticar apenas por criticar. Por que ao invés de discutirmos isoladamente se queremos manter ou derrubar o estádio não nos organizamos politicamente e realizamos uma ampla discussão sobre essa questão? É preciso pensar que não basta derrubar um estádio e construir outro. É importante que pensemos como manteremos um ou dois novos estádios. É preciso refletir sobre o impacto e as conseqüências dessa ação para a qualidade de vida do nosso povo. Penso que os amantes do futebol e o povo em geral precisam se unir e defender não somente o seu direito ao lazer, mas exigir dos seus representantes um maior compromisso e responsabilidade em relação a outras questões daí decorrentes.

Não podemos esquecer que os gastos com os serviços públicos saem do meu e do seu bolso, senhor contribuinte, que pagamos impostos em dia. Quanto aos que não cumprem com os seus deveres de contribuintes, penso que estes não têm o direito de participar dessa discussão. Sonegando impostos, eles perdem o direito de exigir o cumprimento dos deveres dos seus representantes. Somos sujeitos de direitos e de deveres também. O exercício da cidadania requer que se considerem essas duas faces da moeda.

Se ficarmos calados, estaremos nos omitindo como cidadãos. Considerando os possíveis desdobramentos dessa decisão, acho que o povo natalense deveria ter o direito de participar dela e escolher o destino do Machadão por meio da realização de um plebiscito. Esta seria certamente uma iniciativa democrática para acabar com esse impasse. Saberíamos, assim, se o povo quer mesmo ver o estádio no chão ou se existem outros interessados nisso.

A realização desse plebiscito não nos deixaria à mercê da falta de decoro de alguns dos nossos representantes nem estaríamos servindo aos interesses pessoais de quem quer que seja em detrimento dos interesses da população. A discussão sobre a necessidade ou não de derrubar o Machadão deveria interessar a todos. Como cidadãos, devemos também ter o mesmo cuidado de agir com zelo, ética e responsabilidade social em relação ao patrimônio público. Em tempos de eleição, precisamos estar atentos e vigilantes. É bom saber por que razões alguns representantes do povo estão defendendo esse projeto. Como cidadão, cumpridor dos meus deveres, vivendo em um país democrático, eu quero ter o direito de opinar sobre os rumos da minha cidade.

Williams Ferreira Alves

Estudante do Curso de Comércio

IFRN- Campus Natal/ Zona Norte

Um comentário:

  1. De que um patrimônio Público serve se não for para o melhor da sociedade a qual faz parte. De fato o "Machadão" deve ser derrubado, retirar todo os escrombos e dar lugar a uma nova tecnologia, uma nova era, que acima de tudo trarar não só a copa de 2014 em Natal, mas também oportunidades para todos os potiguares.
    Tenho certeza que quem é do contra vai cai em si, e vai tirar proveito de todas essas tecnologias e dessas oportunidades.

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